Morre aos 77 anos o italiano Bernardo Bertolucci, diretor de “O Último Tango em Paris”

FONTE: O SUL

Morreu aos 77 anos, em Roma, nesta segunda-feira (26), o cineasta italiano Bernardo Bertolucci, um dos últimos remanescentes da geração de autores revelada na Europa nos anos 1960. A imprensa europeia diz que ele sucumbiu a “uma longa doença”.

Ex-assistente de Pier Paolo Pasolini, o diretor estreou em voo solo com “A Morte”, de 1962, baseado em argumento e roteiro do antigo chefe. Dois anos mais tarde, viria “Antes da Revolução”.

Chama a atenção a partir de 1970, com “O Conformista”, adaptação do romance homônimo de Alberto Moravia sobre a normalização do fascismo. Protagonizado por uma das estrelas da época, o francês Jean-Louis Trintignant, o filme foi premiado no Festival de Berlim e indicado ao Oscar de roteiro adaptado.

A consagração viria com “O Último Tango em Paris” (1972), cercado de polêmicas. Uma cena de sodomia envolvendo os personagens interpretados por Marlon Brando e Maria Schneider levou a cortes ou à censura total do longa-metragem em vários países.

Na Itália, onde ele só pôde estrear em 1975, todas as cópias de “Tango” foram confiscadas depois de uma semana, Bertolucci se viu processado por obscenidade, e a Justiça ordenou que elas fossem destruídas, além de condená-lo à prisão.

No vídeo gravado originalmente em 2013 mas republicado por uma ONG espanhola no final de 2016, Bertolucci conta que a atriz Maria Schneider (1952-2011), na época com 19 anos, não sabia o que aconteceria em uma cena na qual Marlon Brando (1924-2004) usa manteiga como lubrificante.

“A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com Marlon na manhã anterior à filmagem”, lembrou o diretor. “Fui horrível com Maria, porque não lhe disse o que iria acontecer”. De acordo com ele, a intenção era fazer Schneider reagir “como uma menina, não como um atriz”.

No vídeo, Bertolucci conta ainda que não voltou a ver a atriz depois das gravações do filme, porque “ela o odiava”. O diretor afirmou na época sentir-se culpado pelo episódio, mas não arrependido. “Para fazer filmes e obter algo, às vezes precisamos ser completamente frios.”

A produção, também proibida por anos no Brasil, só cumpriria carreira no circuito italiano em 1987. Tempos depois, Schneider diria ter sido coagida a fazer a cena controversa, cujo nível de violência ela teria descoberto no momento da filmagem.

Depois da superprodução “1900” (1976), com elenco internacional liderado por Robert De Niro e Gérard Depardieu, Bertolucci teria em “O Último Imperador” (1987) a confirmação de sua estatura global.

Vencedor de nove Oscars, incluindo os de melhor filme e melhor diretor, o trabalho inaugura uma fase hollywoodiana que incluiria ainda os menos aclamados “O Céu que nos Protege” (1990) e “O Pequeno Buda” (1993).

Ele volta à Itália (mas em língua inglesa) com “Beleza Roubada” (1996), mas só faz mesmo as pazes com crítica e cinéfilos alguns anos depois, graças a “Os Sonhadores” (2003), sobre as ondulações lúbricas e intelectuais de um trio de jovens franco-americanos, com o Maio de 68 parisiense como pano de fundo. Já muito debilitado, ele se despediria dos longas-metragens rodando o doce “Eu e Você” (2012), mais uma adaptação literária.

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