Coronavírus mata mais jovens no Brasil, segundo estudo

FONTE: O SUL
A mortalidade por Covid-19 entre os jovens brasileiros é quase dois terços superior à verificada nos países ricos, revela uma análise feita pelo demógrafo francês Christophe Guilmoto, do IRD (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento) da Universidade de Paris. Proporcionalmente, há também mais mulheres entre as vítimas brasileiras do novo coronavírus, embora em todos os países a maioria dos mortos seja masculina.

Em estudo preliminar divulgado semana passada no repositório MedRxiv, Guilmoto analisou a mortalidade de doença em 19 países, responsáveis por quase 80% do total de mortos no planeta. Para nove deles – oito na Europa, além dos Estados Unidos –, investigou as mortes por sexo e por faixa etária.

Ele incluiu em sua análise os dados brasileiros das mortes por Covid-19, distribuídos por sexo e faixa etária segundo as informações disponíveis no Portal da Transparência do Registro Civil.

Para concluir que a doença mata mais jovens, não basta calcular, para cada país, a proporção de jovens sobre o total de mortos. Não basta dizer que 6% dos mortos brasileiros têm menos de 35 anos, ante menos de 1% dos americanos.

É preciso levar em conta que, em um país com mais jovens como o Brasil, é esperado que jovens morram em maior proporção do que num país onde a pirâmide etária abriga uma fatia maior de idosos.

O certo é comparar não quantos jovens ou idosos há no total de mortos, mas a mortalidade pela Covid-19 nas diferentes faixas etárias, como faz Guilmoto. No Brasil, até os 35 anos, a doença mata aproximadamente 5,9 pessoas por milhão (6,5 homens por milhão e 5,2 mulheres por milhão).

Nos demais nove países analisados por ele, nessa mesma faixa etária, a Covid-19 mata 3,5 pessoas por milhão (4,7 homens por milhão e 2,4 mulheres por milhão). A mortalidade pela Covid-19 entre os jovens brasileiros é, portanto, 65,4% superior à registrada nos países ricos.

Para analisar as diferentes causas de morte, os demógrafos avaliam o impacto que anos a mais de vida representam nos índices de mortalidade. “Uma medida simples é saber em quantos anos a mortalidade é multiplicada por 10”, diz Guilmoto. “Na minha amostra, são exatamente 20 anos. Quer dizer que eu tenho dez vezes menos risco de morrer de Covid do que quem tem 20 anos a mais.”

No Brasil, onde a pandemia tem matado mais jovens que nos demais países, a situação é um pouco diferente. Os idosos ainda são, é claro, as principais vítimas da doença – e morrem em proporção maior do que morreriam na ausência do novo coronavírus. Mas não na mesma proporção do que morrem nos países ricos. Aqui, a mortalidade por Covid-19 decuplica não a cada 20 anos a mais de vida, mas a cada 30.

Ele calculou ainda as diferenças na mortalidade entre os sexos, também levando em conta faixas etárias. Em todos os países, a Covid-19 mata mais homens que mulheres. Na Europa e nos Estados Unidos, essa proporção é superior ao dobro para todas as faixas etárias entre os 30 e os 85 anos. No Brasil, há novamente um abrandamento na curva. Embora a mortalidade masculina ainda seja bem maior, ela só alcança o dobro na faixa em torno dos 55 anos.

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