Desnuclearização da Coreia do Norte é só o início de um longo processo que deve culminar na reunificação pacífica da península coreana, diz embaixador

FONTE O SUL//A cúpula entre o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, não será a solução derradeira, mas o início de um longo processo que deve culminar na reunificação pacífica da península coreana, afirmou na quinta-feira (19) o embaixador da Coreia do Sul no Brasil, Jeong Gwan Lee.

A reunião na zona de distensão entre as Coreias, em 27 de abril, será a primeira cúpula entre os dois países em mais de uma década. Ela antecede um esperado encontro entre Kim e o presidente dos EUA, Donald Trump, em data e local a serem definidos, ainda no primeiro semestre.

“Uma resolução sobre o programa nuclear norte-coreano não é nosso destino final, é um grande começo”, afirma Lee. “Com a resolução dessa questão, podemos seguir adiante com um tratado de paz, promover trocas e cooperação, e então poderemos chegar ao destino final, que é a paz permanente na península coreana, em acordo com os norte-coreanos.”

Com a experiência de quem participou de negociações com o Norte na década de 1990, Lee se diz confiante. “Não será um processo fácil. Será trabalhoso. Mas podemos dizer com alguma confiança que não é impossível. É uma questão de tempo.”

“Se olharmos para o fim do ano passado, ninguém poderia imaginar esse tipo de avanço. Falávamos então da possibilidade de uma guerra na península coreana. É notável”, ressaltou. Na quinta, Moon disse que Pyongyang manifestou disposição a abrir mão da sua exigência tradicional da retirada das tropas americanas estacionadas na Coreia do Sul.

“O Norte está expressando um desejo de total desnuclearização”, disse Moon, segundo a agência Reuters. “Eles não atrelaram isso a nenhuma condição que os EUA não possam aceitar, como a retirada das tropas americanas da Coreia do Sul. O que eles falam é do fim de políticas hostis, seguidas de uma garantia de segurança.”

Trata-se de ponto crucial, pois a Coreia do Norte sempre viu os mais de 20 mil soldados posicionados no Sul como uma ameaça à sua segurança. A questão é, ficando esses soldados, que garantia dar aos norte-coreanos.

“Em encontro com enviados sul-coreanos em março, Kim disse que não se importa com a manutenção dos exercícios militares que as forças americanas e sul-coreanas fazem todos os anos. Isso indica que sua intenção é não pressionar demais e que ele pode ser flexível sobre esse tema”, afirmou Lee.

A assinatura de uma declaração sobre o fim da Guerra da Coreia pode servir como garantia de segurança, diz o embaixador. As Coreias declararam um armistício em 1953, mas a guerra até hoje não terminou oficialmente.

Outra opção é assegurar que as negociações para um tratado formal de paz sejam aceleradas. De outro lado, Pyongyang quer assistência econômica. Podem ser colocadas sobre a mesa possibilidades de ajuda direta do Japão e de cooperações econômicas com o Sul e mesmo com os EUA.

Uma área em que resultados tangíveis podem ser alcançados durante o encontro entre Kim e Moon tem a ver com medidas que beneficiem as populações civis dos dois países. “Podemos fazer isso sem prejudicar a pressão das sanções econômicas sobre a Coreia do Norte”, disse Lee.

A retomada das viagens entre as Coreias violaria resoluções do Conselho de Segurança da ONU e, portanto, não está na mesa. Mas a reunificação de famílias separadas e a promoção de intercâmbio humanitário e cultural são possíveis.

Quaisquer compensações a serem oferecidas a Pyongyang terão de ser coordenadas entre uma série de países, como EUA, Japão, China e, possivelmente, a Rússia. “Para impedir uma repetição dos fracassos do passado, talvez seja uma boa ideia colocar sobre a mesa várias ofertas e dizer ‘nesta etapa posso dar isso e no estágio final aquilo’, mesmo que seja no longo prazo. Assim eles [norte-coreanos] podem ter expectativas”, afirmou Lee.

Segundo o embaixador, essa é uma observação pessoal com a qual muitos dentro de seu governo concordam. Um temor é o de que Trump queira exigir primeiro o fim do programa nuclear para então oferecer algum incentivo. “Isso não é aplicável para o regime norte-coreano”, destacou.

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