Quase metade dos brasileiros desconhece os tipos de câncer infantil, aponta pesquisa

FONTE: O SUL

O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos incompletos, de acordo com o INCA (Instituto Nacional de Combate ao Câncer). No entanto, para mais da metade dos brasileiros (53%), doenças como a pneumonia (23%), meningite (14%) e a desnutrição (16%) são as que mais matam. Essa dicotomia evidenciada pela pesquisa “Câncer infantil: o quanto conhecemos?” ressalta e exemplifica o desconhecimento do brasileiro em relação ao câncer infantil.

Realizado pela SOBOPE (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica), em parceria com a Bayer, em capitais capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília), com 2.500 entrevistados, o levantamento tem como objetivo mensurar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer infantil e alertar para os primeiros sinais da doença que podem viabilizar um diagnóstico precoce.

Denominado infantil ou infanto-juvenil, esse tipo de câncer compreende o aparecimento de tumores em diferentes locais do corpo e acomete pessoas de 0 a 19 anos incompletos. Apesar de ser considerada uma doença rara quando comparada ao número de casos em adultos, correspondendo a apenas 3% do total de tumores no País, hoje é a principal causa de morte em crianças e adolescentes nessa faixa etária, somando anualmente em torno de 12.600 casos novos ao ano somente no Brasil.

Em Porto Alegre, 71% dos entrevistados conhecem o câncer infantil. Mais da metade dos porto-alegrenses acredita que leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os tipos de câncer mais comuns entre crianças e adolescentes.

Diferenças cruciais, porém, desconhecidas

De acordo com o INCA, as principais diferenças entre os cânceres infantis e de adultos estão nos aspectos morfológicos (como o tipo de tumor), no comportamento clínico (como a sua evolução) e nas localizações primárias.

Enquanto nas crianças e jovens os cânceres geralmente afetam as células do sistema sanguíneo, nervoso e tecidos de sustentação, como os ossos; nos adultos, as células epiteliais, que recobrem os órgãos, são as mais atingidas. Além disso, os cânceres nos adultos comumente apresentam mutações em decorrência de fatores ambientais, enquanto nos pequenos e jovens ainda não há estudos conclusivos sobre a influência desses aspectos no aparecimento da doença.

Embora essas sejam informações importantes para a detecção e, principalmente, para o tratamento adequado, o levantamento constatou que, para 45% dos brasileiros, o câncer que acomete crianças é igual ao câncer que acomete adultos. Além do mais, apenas 30% sabem que a maioria dos casos de câncer não tem causa conhecida.

“O levantamento indica que a população brasileira tem um conhecimento em parte equivocado em relação ao câncer infanto-juvenil”, explicou o especialista Dr. Cláudio Galvão de Castro Jr, presidente eleito da SOBOPE e Chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas do Hospital da Criança Santo Antônio.

“É preciso entender que as diferenças entre os cânceres infantis e em adultos são muitas. Nas crianças, por exemplo, importa mais o tipo de célula afetada do que a localização do tumor. Além disso, apesar de mais agressivos e se tornarem invasivos mais rapidamente, os tumores infanto-juvenis, quando tratados corretamente, respondem melhor.”

Nesse quesito, os brasileiros, mesmo que incertos, são otimistas. Para 40% dos entrevistados, o índice aproximado de cura do câncer em crianças e adolescentes, quando tratado corretamente, é de 70%. “Nisso eles estão corretos; apesar da maioria dos quadros de câncer infanto-juvenil ser preocupante, eles têm maior taxa de cura”, reforça.

Tipos de câncer mais comuns

O levantamento identificou que, para 68% dos brasileiros, as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os tipos de câncer que mais atingem crianças e adolescentes, seguido de 20% que identificaram os cânceres de pulmão, intestino e fígado, e 12% que elegeram os cânceres de mama, próstata e estômago.

“Apesar de acertarem ao indicar que as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os mais prevalentes entre crianças e jovens, os brasileiros desconhecem outros cânceres infanto-juvenis importantes, como o neuroblastoma, retinoblastoma e osteossarcoma”, complementou o especialista.

Hoje já é possível contar com tecnologias inovadoras para o tratamento dos cânceres infantis. No entanto, o diagnóstico precoce e correto é essencial para o sucesso do tratamento, e o desconhecimento a respeito dessas doenças se mostra uma barreira importante que ainda precisa ser transposta pelos brasileiros.

É possível observar as implicações desse desconhecimento ao comparar a prevalência dos tipos de cânceres infantis em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a falta de conhecimento é maior, em relação à prevalência em países desenvolvidos. De acordo com o INCA, no Brasil o tipo mais comum são as leucemias, seguidas pelo linfoma e tumores do sistema nervoso central; enquanto em países desenvolvidos, onde a população tem um maior acesso à informação, o linfoma ocupa o terceiro lugar, após os tumores do sistema nervoso central.

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