Três milhões e meio de pessoas vivem em cidades brasileiras que têm barragens com risco de rompimento

FONTE: O SUL

Cerca de 3,5 milhões de pessoas vivem em cidades brasileiras onde estão localizadas barragens com risco de rompimento. O número representa aproximadamente 2% da população do País. Relatório da ANA (Agência Nacional de Águas) divulgado no fim do ano passado, com informações de 2017, apontou que 45 estruturas do tipo apresentavam falhas estruturais. Elas estão espalhadas por mais de 30 municípios de 13 Estados.

Entre os problemas citados, estavam infiltrações, buracos, rachaduras e falta de documentos que garantissem a segurança das estruturas. O número pode ser maior porque nem todos os órgãos fiscalizadores enviam as informações completas sobre suas barragens à ANA.

As cidades mais populosas com barragens nessa situação são Campo Grande (MS), Cariacica (ES) e Pelotas (RS). Em São Paulo, há duas: Americana e Pirapora do Bom Jesus. A barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) na última sexta (25) era considerada de baixo risco.

A tragédia trouxe à tona a discussão sobre a proximidade entre barragens e comunidades do entorno. Não há, atualmente, uma distância mínima que deve ser respeitada. Um projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, feito em parceria com o Ministério Público e o Ibama na esteira do rompimento em Mariana, tentou estabelecer um espaço de 10 quilômetros entre barragens de rejeitos e zonas povoadas, mas não foi adiante.

Para Klemens Laschefski, professor do Departamento de Geologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é difícil estipular uma distância mínima a ser seguida pelas empresas. “As situações dos lugares são diferentes. É preciso analisar cada contexto geofísico, os declives do lugar, a viscosidade dos resíduos”, diz.

Mas é importante manter sempre uma distância considerável. Alemão, ele diz que nunca entendeu “como se constroem barragens onde vive gente”. “Não é comum em outros países, onde costumam ser construídas longe da população”, diz. “Isso só é comum onde há uma legislação ambiental fraca.”

Mais do que observar aspectos técnicos, é preciso analisar os grupos que vivem na região e a relação que mantêm com o território antes de iniciar um empreendimento, diz a antropóloga Andréa Zhouri, coordenadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da mesma universidade. “Os empreendedores fazem o plano e tiram o que estiver no caminho. O mais lógico seria colocar a sociedade que vive ali em primeiro lugar”, afirma.

O que se faz antes da construção é um estudo chamado “dam break” (rompimento de barragem), que avalia a extensão do estrago de um eventual acidente, explica Laura Maria Fais, engenheira ambiental da Faculdade de Tecnologia da Unicamp. “O ideal é que comunidades estivessem afastadas o suficiente para não estarem nessa área, mas, muitas vezes, isso não ocorre”, diz.

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